terça-feira, 26 de outubro de 2010

Um dia inesquecível

Era um dia de finados no ano de 2005. Fazia um sol gostoso e um calor não muito exagerado, daqueles na medida certa para se sair para passear. Foi o que fizemos. Mas mal podíamos imaginar o que estaria por vir naquele dia.
As crianças tem sempre as suas épocas de gostar de diferentes coisas, brinquedos, filmes ou músicas. Naquela época o Eduardo só queria saber de avião. Todo brinquedo virava um avião, ele já tinha recebido alguns de presente e adorava todos, inclusive falava a toda hora do "aião".
Saímos então de casa e eu já com um pensamento fixo: "hoje vou tentar mostrar um avião de verdade pro meu filho".
Fomos então ao Extra, compramos algumas coisas, depois fomos almoçar por ali mesmo. Era por volta das três da tarde quando saímos do supermercado e resolvi colocar meu plano em ação, fui rumo ao Campo dos Amarais, um aeroclube que sempre tem alguns aviões fazendo manobras ou até mesmo paraquedistas(isso naquela época, agora não tem mais).
Chegando próximo ao campo puder ver que não havia praticamente movimento nenhum no local. Pensei comigo: "poxa, que pena, ele não vai conseguir ver nada".
Mas chegando mais perto decidi entrar no aeroclube para pelo menos chegarmos perto dos aviões que estavam estacionados, alguns até bem próximos da cerca que protegia o hangar.
Chegamos então, desci com ele e mostrei os aviões. Ele ficou doido. Queria ir mais perto dos aviões e tocá-los. Mas o portão estava fechado e não havia ninguém por perto, infelizmente.
Ficamos ali por vários minutos olhando e comentando sobre os aviões. De repente notei que um carro estacionou atrás de nós, um homem e uma mulher desceram do carro e foram em direção a entrada do hangar. Abriram o portão e me vendo com uma criança no colo toda euforica o homem perguntou:
- Ele gosta de avião?
- Acho que já deu pra perceber que sim né? - respondi, enquanto continha o pequeno no colo se jogando em direção ao portão de entrada .
Aproveitei a deixa para fazer meu papel de pai:
- Será que ele pode entrar um pouquinho só pra ver os aviões?
- Claro que pode, entra aqui.
Entramos então e um menininho saiu correndo para chegar perto do primeiro avião após a entrada. Apontou ele e eu fui acompanhando-o em cada um dos aviões.
Enquanto isso fui conversando com o homem que gentilmente abriu as portas e permitiu dar uns minutos de alegria a um pequeno garotinho. O homem gentil chamava-se Agnaldo. Contou que já havia trabalhado como piloto comercial, mas que agora só fazia um vôo panorâmico para o Rio de Janeiro em seu próprio monomotor de 8 lugares. Ele me mostrou então seu avião.
Continuamos conversando, Eduardo vendo os aviões e o Agnaldo então abriu seu avião, provavelmente para fazer alguma limpeza, ou teste, sei lá.
De dentro da cabine ele me chamou e disse:
- Quer mostrar aqui dentro pra ele?
- Claro! - respondi imediatamente.
- Edu, vem aqui entrar no avião.
Coloquei ele lá dentro que ficou queitinho no colo do novo tio e adorou ver aquele monte de relógios, mostradores e botões.
Agnaldo olha pra mim então e pergunta:
- Ele já vôo?
- Não, nunca.
- Vamos dar uma voltinha com ele? - nesse momento houve um certo descrédito da minha parte, mas ele não parecia que queria fazer nenhuma brincadeira.
- Mas como assim, você vai para algum lugar agora? - perguntei desconfiado
- Não, não. A gente dá só uma voltinha aqui perto mesmo, só pra ele voar pela primeira vez.
- Poxa, não to nem acreditando, ele vai adorar!
- Vamos lá então?
Ele já foi pegando o rádio e avisando que ia decolar, enquanto isso pegamos o Edu e ficamos esperando. Ainda achava que tinha alguma pegadinha pra ser revelada.
Mas então ele chamou sua esposa, ela sentou-se com ele na cabine, pediu para subirmos e lá fomos nós.
O pequeno avião entrou na pista, Agnaldo fez o motor gritar bem alto, andou quase a pista toda e saímos do chão. Olhei para o meu filho que estava calmo, olhando para o céu, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo para ele. Foi emocionante ver o rostinho dele tão tranquilo.
Demos uma volta então pela região, sobrevoamos Barão Geraldo, a rodovia Dom Pedro, a lagoa do Taquaral e voltamos.
O pouso, com um vento meio forte foi emocionante. Chegamos ao solo, descemos e agrademos muito ao Agnaldo. Alias, não tínhamos nem como agradecer. Foi um gesto maravilhoso que ele fez para uma criança. Depois me pediu para enviar as fotos do vôo e disse que se quiséssemos fazer o vôo para o Rio com ele, que estaria a disposição. Me passou seu e-mail, nos despedimos e fomos embora ainda sem acreditar que tudo aquilo tinha acontecido num dia de finados.
O interessante de tudo isso é que mesmo tendo apenas dois anos na época, Eduardo se lembra desse dia, um dos poucos alias que ele se lembra nessa idade.

Vou aproveitar e agradecer mais uma vez ao Agnaldo por aquele dia inesquecível.
Nosso muito obrigado Agnaldo!